6.1.1. O
que é e como se processa?
Transferência de
Calor (ou Calor) é energia em trânsito devido a
uma diferença de temperatura. Sempre que
existir uma diferença de temperatura em um meio
ou entre meios ocorrerá transferência de calor.
Por exemplo, se
dois corpos a diferentes temperaturas são
colocados em contato direto, como mostra a
figura 1.1, ocorrera uma transferência de calor
do corpo de temperatura mais elevada para o
corpo de menor temperatura até que haja
equivalência de temperatura entre eles. Dizemos
que o sistema tende a atingir o equilíbrio
térmico.
Está implícito
na definição acima que um corpo nunca contém
calor, mas calor é identificado com tal quando
cruza a fronteira de um sistema. O calor é,
portanto um fenômeno transitório, que cessa
quando não existe mais uma diferença de
temperatura.
Os diferentes
processos de transferência de calor são
referidos como mecanismos de transferência de
calor. Existem três mecanismos, que podem ser
reconhecidos assim:
· Quando
a transferência de energia ocorrer em um meio
estacionário, que pode ser um sólido ou um
fluido, em virtude de um gradiente de
temperatura, usamos o termo transferência de
calor por condução. A figura 1.2 ilustra a
transferência de calor por condução através de
uma parede sólida submetida à uma diferença de
temperatura entre suas faces.
· Quando
a transferência de energia ocorrer entre uma
superfície e um fluido em movimento em
virtude da diferença de temperatura entre eles,
usamos o termo transferência de calor por
convecção. A figura 1.3 ilustra a transferência
de calor de calor por convecção quando um fluido
escoa sobre uma placa aquecida.
· Quando,
na ausência de um meio interveniente,
existe uma troca líquida de energia (emitida na
forma de ondas eletromagnéticas) entre duas
superfícies a diferentes temperaturas, usamos o
termo radiação. A figura 1.4 ilustra a
transferência de calor por radiação entre duas
superfícies a diferentes temperaturas.
6.1.2.
Mecanismos Combinados
Na maioria das
situações práticas ocorrem ao mesmo tempo dois
ou mais mecanismos de transferência de calor
atuando ao mesmo tempo. Nos problemas da
engenharia, quando um dos mecanismos domina
quantitativamente, soluções aproximadas podem
ser obtidas desprezando-se todos, exceto o
mecanismo dominante. Entretanto, deve ficar
entendido que variações nas condições do
problema podem fazer com que um mecanismo
desprezado se torne importante.
Como exemplo de
um sistema onde ocorrem ao mesmo tempo vários
mecanismo de transferência de calor consideremos
uma garrafa térmica. Neste caso, podemos ter a
atuação conjunta dos seguintes mecanismos
esquematizados na figura 1.5:
Melhorias estão
associadas com (1) uso de superfícies
aluminizadas (baixa emissividade) para o frasco
e a capa de modo a reduzir a radiação e (2)
evacuação do espaço com ar para reduzir a
convecção natural.
6.1.3.
Sistemas de Unidades
As dimensões
fundamentais são quatro: tempo, comprimento,
massa e temperatura. Unidades são meios
de expressar numericamente as dimensões.
Apesar de ter
sido adotado internacionalmente o sistema
métrico de unidades denominado sistema
internacional (S.I.), o sistema inglês e o
sistema prático métrico ainda são amplamente
utilizados em todo o mundo. Na tabela 1.1 estão
as unidades fundamentais para os três sistemas
citados:
Unidades
derivadas mais importantes para a transferência
de calor, mostradas na tabela 1.2, são obtidas
por meio de definições relacionadas a leis ou
fenômenos físicos:
·Lei de
Newton: Força é igual ao produto de massa por
aceleração (F = m.a), então :
1 Newton (N)
é a força que acelera a massa de 1 Kg
a 1 m/s2
·Trabalho
(Energia) tem as dimensões do produto da força
pela distância ( W = F.x ), então :
1 Joule (J )
é a energia dispendida por uma força de 1
N em 1 m
·Potência
tem dimensão de trabalho na unidade de tempo (P
= W/ t), então:
1 Watt (W)
é a potência dissipada por uma força de 1
J em 1 s
As unidades mais
usuais de energia ( Btu e Kcal ) são baseadas em
fenômenos térmicos, e definidas como :
· Btu é
a energia requerida na forma de calor para
elevar a temperatura de 1lb de água de 67,5 ºF a
68,5 ºF
· Kcal é
a energia requerida na forma de calor para
elevar a temperatura de 1 kg de água de 14,5 ºC
a 15,5 ºC
Em relação ao
calor transferido, as seguintes unidades que
são, em geral, utilizadas:
-
fluxo de calor transferido (potência): W, Btu/h,
Kcal/h.
Q - quantidade
de calor transferido (energia): J, Btu, Kcal.
Uma das técnicas
utilizadas para a detecção de um incêndio dentro
de um ambiente consiste em encostarmos a mão na
porta ou na parede, sentindo assim a temperatura
da mesma. O que acontece, termodinamicamente no
momento do contato? Definindo nossa mão como um
sistema A e a porta como um sistema B,
reconhecemos que A recebe calor de B (através da
fronteira). Em conseqüência, a energia interna
de A começa a subir e daí sua temperatura. Pelo
contato térmico, há transferência de calor de B
para A.
Formalizando,
podemos dizer que condução de calor é a troca de
energia entre sistemas ou partes de um mesmo
sistema em diferentes temperaturas que ocorre
pela interação molecular (impacto) onde
moléculas de alto nível energético transferem
energia às outras, como acontece com gases e
mais intensamente com líquidos, pois neste caso,
as moléculas estão bem mais próximas. Para
sólidos não metálicos, o mecanismo básico de
condução está associado às vibrações das
estruturas eletrônicas e para os metais, os
elétrons livres, que podem se mover na estrutura
cristalina, entram em cena, aumentando a
intensidade da difusão (condução) de energia.
Assim, materiais que forem bons condutores
elétricos serão bons condutores térmicos, uma
vez que os mecanismos de operação sejam os
mesmos.
6.2.1. Lei
de Fourier
A lei de Fourier
foi desenvolvida a partir da observação dos
fenômenos da natureza em experimentos.
Imaginemos um
experimento onde o fluxo de calor resultante é
medido após a variação das condições
experimentais. Consideremos, por exemplo, a
transferência de calor através de uma barra de
ferro com uma das extremidades aquecidas e com a
área lateral isolada termicamente, como mostra a
figura 1.6:
Com base em
experiências, variando a área da seção da barra,
a diferença de temperatura e a distância entre
as extremidades, chega-se a seguinte relação de
proporcionalidade:
A
proporcionalidade pode se convertida para
igualdade através de um coeficiente de
proporcionalidade e a Lei de Fourier pode ser
enunciada assim: A quantidade de calor
transferida por condução, na unidade de tempo,
em um material, é igual ao produto das seguintes
quantidades:
(eq. 1.1)
,
fluxo de calor por condução ( Kcal/h no sistema
métrico);
k,
condutividade térmica do material;
A,
área da seção através da qual o calor flui,
medida perpendicularmente à direção do fluxo (m2);
dT/ dx,
razão de variação da temperatura T com a
distância, na direção x do fluxo de calor ( ºC/h
)
ÞA razão
do sinal menos na equação de Fourier é que a
direção do aumento da distância x deve ser a
direção do fluxo de calor positivo. Como o calor
flui do ponto de temperatura mais alta para o de
temperatura mais baixa (gradiente negativo), o
fluxo só será positivo quando o gradiente for
positivo (multiplicado por -1).
O fator de
proporcionalidade k (condutividade
térmica) que surge da equação de Fourier é uma
propriedade de cada material e vem exprimir
maior ou menor facilidade que um material
apresenta à condução de calor. Sua unidade é
facilmente obtida da própria equação de Fourier,
por exemplo, no sistema prático métrico temos:
No sistema
inglês fica assim:
No sistema
internacional (SI), fica assim:
Os valores
numéricos de k variam em extensa faixa
dependendo da constituição química, estado
físico e temperatura dos materiais. Quando o
valor de k é elevado o material é considerado
condutor térmico e, caso contrário,
isolante térmico. Com relação à temperatura,
em alguns materiais como o alumínio e o cobre, o
k varia muito pouco com a temperatura, porém em
outros, como alguns aços, o k varia
significativamente com a temperatura. Nestes
casos, adota-se como solução de engenharia um
valor médio de k em um intervalo de temperatura.
6.2.2.
Condução de Calor em uma Parede Plana
Consideremos a
transferência de calor por condução através de
uma parede plana submetida a uma
diferençam de temperatura. Ou seja, submetida a
uma fonte de calor, de temperatura constante e
conhecida, de um lado, e a um sorvedouro de
calor do outro lado, também de temperatura
constante e conhecida. Um bom exemplo disto é a
transferência de calor através da parede de um
forno, como pode ser visto na figura 1.7, que
tem espessura L, área transversal A
e foi construído com material de
condutividade térmica k. Do lado de
dentro a fonte de calor mantém a temperatura na
superfície interna da parede constante e igual a
T1 e externamente o sorvedouro
de calor ( meio ambiente ) faz com que a
superfície externa permaneça igual a T2.
Aplicado a
equação de Fourier, tem-se:
(eq. 1.2)
Na figura 1.7
vemos que na face interna (x=0) a temperatura é
T1 e na face externa ( x=L ) a temperatura é T2.
Para a transferência em regime permanente o
calor transferido não varia com o tempo. Como a
área transversal da parede é uniforme e a
condutividade k é um valor médio, a integração
da equação 1.2, entre os limites que podem ser
verificados na figura 1.7, fica assim:
Considerando que
(T1 - T2) é a diferença de
temperatura entre as faces da parede (DT ), o
fluxo de calor a que atravessa a parede plana
por condução é :
(eq.
1.3)
Para melhor
entender o significado da equação 1.3
consideremos um exemplo prático. Suponhamos que
o engenheiro responsável pela operação de um
forno necessita reduzir as perdas térmicas pela
parede de um forno por razões econômicas.
Considerando a equação 1.3, o engenheiro tem,
por exemplo, as opções listadas na tabela 1.3:
Trocar a parede
ou reduzir a temperatura interna podem ações de
difícil implementação; porém, a colocação de
isolamento térmico sobre a parede cumpre ao
mesmo tempo as ações de redução da condutividade
térmica e aumento de espessura da parede.
Exercício
R.6.2.1.
Um equipamento
condicionador de ar deve manter uma sala, de 15
m de comprimento, 6 m de largura e 3 m de altura
a 22 ºC. As paredes da sala, de 25 cm de
espessura, são feitas de tijolos com
condutividade térmica de 0,14 Kcal/h.m.ºC e a
área das janelas podem ser consideradas
desprezíveis. A face externa das paredes pode
estar até a 40 ºC em um dia de verão.
Desprezando a troca de calor pelo piso e pelo
teto, que estão bem isolados, pede-se o calor a
ser extraído da sala pelo condicionador (em HP).
OBS: 1 HP =
641,2 Kcal/h
Para o cálculo
da área de transferência de calor desprezamos as
áreas do teto e piso, onde a transferência de
calor é desprezível. Desconsiderando a
influência das janelas, a área das paredes da
sala é:
A
= 2× 6 × 3 + 2
×(15× 3)= 126m2
Considerando que
a área das quinas das paredes, onde deve ser
levada em conta a transferência de calor
bidimensional, é pequena em relação ao resto,
podemos utilizar a equação 1.3:
6.2.3.
Analogia entre Resistência Térmica e Resistência
Elétrica
Dois sistemas
são análogos quando eles obedecem a equações
semelhantes. Por exemplo, a equação 1.3 que
fornece o fluxo de calor através de uma parede
plana pode ser colocada na seguinte forma:
(eq.
1.4)
O denominador e
o numerador da equação 1.4 podem ser entendidos
assim:
· (DT),
a diferença entre a temperatura da face quente e
da face fria, consiste no potencial que
causa a transferência de calor.
· (L /
k.A)
é equivalente a uma resistência térmica
(R) que a parede oferece à transferência de
calor.
Portanto, o
fluxo de calor através da parede pode ser
expresso da seguinte forma:
(eq. 1.5)
Se substituirmos
na equação 1.5 o símbolo do potencial de
temperatura
DT
pelo
de potencial elétrico, isto é, a diferença de
tensão
DU,
e o símbolo da resistência térmica R pelo
da resistência elétrica Re,
obtemos a equação 1.6 (lei de Ohm) para i,
a intensidade de corrente elétrica:
(eq.
1.6)
Dada esta
analogia, é comum a utilização de uma notação
semelhante a usada em circuitos elétricos,
quando representamos a resistência térmica de
uma parede ou associações de paredes. Assim, uma
parede de resistência R, submetida a um
potencial
DT e
atravessada por um fluxo de calor , pode ser
representada como na figura 1.8:
6.2.4.
Associação de paredes planas em série
Consideremos um
sistema de paredes planas associadas em série,
submetidas a uma fonte de calor, de temperatura
constante e conhecida, de um lado e a um
sorvedouro de calor do outro lado, também de
temperatura constante e conhecida. Assim, haverá
a transferência de um fluxo de calor contínuo no
regime permanente através da parede composta.
Como exemplo, analisemos a transferência de
calor através da parede de um forno, que pode
ser composta de uma camada interna de refratário
(condutividade k1 e espessura L1),
uma camada intermediária de isolante térmico
(condutividade k2 e espessura L2)
e uma camada externa de chapa de aço
(condutividade k3 e espessura L3).
A figura 1.9 ilustra o perfil de temperatura ao
longo da espessura da parede composta:
O fluxo de calor
que atravessa a parede composta pode ser obtido
em cada uma das paredes planas individualmente:
(eq. 1.7)
Isolando as
diferenças de temperatura em cada uma das
equações 1.7 e somando membro a membro, obtemos:
eq. 1.8)
Colocando em
evidência o fluxo de calor
e
substituindo os valores das resistências
térmicas em cada parede na equação 1.8, obtemos
o fluxo de calor pela parede do forno:
(eq. 1.9)
Portanto, para o
caso geral em que temos uma associação de
paredes n planas associadas em série o
fluxo de calor é dado por:
(eq. 1.10)
6.2.5.
Associação de paredes planas em paralelo
Consideremos um
sistema de paredes planas associadas em
paralelo, como na figura 1.10, submetidas a
uma diferença de temperatura constante e
conhecida. Assim, haverá a transferência de um
fluxo de calor contínuo no regime permanente
através da parede composta.
·Todas
as paredes estão sujeitas a mesma diferença de
temperatura;
·As
paredes podem ser de materiais e/ou dimensões
diferentes;
·O fluxo
de calor total é a soma dos fluxos por cada
parede individual.
O fluxo de calor
que atravessa a parede composta pode ser obtido
em cada uma das paredes planas individualmente:
(eq. 1.11)
O fluxo de calor
total é igual a soma dos fluxos da equação 1.11:
(eq.
1.12)
(eq.
1.13)
Portanto, para o
caso geral em que temos uma associação de n
paredes planas associadas em paralelo o
fluxo de calor é dado por:
(eq. 1.14)
Em uma
configuração em paralelo, embora se tenha
transferência de calor bidimensional, é
freqüentemente razoável adotar condições
unidimensionais. Nestas condições, admite-se que
as superfícies paralelas à direção x são
isotérmicas. Entretanto, a medida que a
diferença entre as condutividades térmicas das
paredes ( k1 - k2 )
aumenta, os efeitos bidimensionais tornam-se
cada vez mais importantes.
Exercício
R.6.2.2.
Uma camada de material refratário (k=1,5 kcal/h.m.ºC)
de 50 mm de espessura está localizada entre duas
chapas de aço (k = 45 kcal/h.mºC) de 6,3 mm de
espessura. As faces da camada refratária
adjacentes às placas são rugosas de modo que
apenas 30 % da área total está em contato com o
aço. Os espaços vazios são ocupados
por ar (k=0,013
kcal/h.m.ºC) e a espessura média da rugosidade
de 0,8 mm.
Considerando que
as temperaturas das superfícies externas da
placa de aço são 430 ºC e 90 ºC,
respectivamente; calcule o fluxo de calor que se
estabelece na parede composta. OBS: Na
rugosidade, o ar está parado (considerar apenas
a condução).
O circuito
equivalente para a parede composta é:
Cálculo das
resistências térmicas (para uma área unitária):
A resistência
equivalente à parede rugosa (refratário em
paralelo com o ar) é:
A resistência
total, agora, é obtida por meio de uma
associação em série:
Trata-se da
transmissão de calor que ocorre entre um corpo
sólido (principalmente) e um fluido em
movimento, podendo o corpo fluído ser líquido ou
gasoso. A convecção pode ser natural ou forçada.
Diz-se que a convecção é natural quando o
movimento do fluído ocorre unicamente devido a
variações de seu peso específico (densidade). Na
convecção forçada o movimento do fluído é
provocado por uma bomba, no caso de um líquido,
ou por um ventilador, no caso de um fluido
gasoso.
A transferência
de calor por convecção pode ser classificada de
acordo com a natureza do escoamento:
Convecção
livre (ou natural):
ocorre
devido às diferenças de densidade causadas por
variações de temperatura no fluido.
Convecção Forçada: quando o escoamento é
causado por meios externos, tais como
ventilador, uma bomba, etc.
Convecção com mudança de fase: quando
apresenta a troca de calor latente. Essa troca
de calor latente é, geralmente, associada à
mudança de fase entre os estados líquidos e
vapor do fluido, condensação e ebulição.
Convecção natural |
Convecção forçada |
Escoamento induzido por forças de
impulsão |
Fluido
forçado a escoar sobre superfície |
|
|
6.3.1. Lei
Básica
O calor
transferido por convecção, na unidade de tempo,
entre uma superfície e um fluido, pode ser
calculado através da relação proposta por Isaac
Newton:
(eq. 1.21)
A tabela a seguir fornece ordens de grandeza do
coeficiente de película (h).
A figura 1.13
ilustra o perfil de temperatura para o caso de
um fluido escoando sobre uma superfície
aquecida.
A simplicidade
da equação de Newton é ilusória, pois ela não
explícita as dificuldades envolvidas no estudo
da convecção. O coeficiente de película é, na
realidade, uma função complexa do escoamento do
fluido, das propriedades físicas do meio fluido
e da geometria do sistema. A partir da equação
1.21, podem ser obtidas as unidades do
coeficiente de película. No sistema métrico,
temos:
(eq.1.22)
Analogamente,
nos sistemas Inglês e Internacional, temos:
6.3.2.
Camada Limite
Quando um fluido
escoa ao longo de uma superfície, seja o
escoamento em regime laminar ou turbulento, as
partículas na vizinhança da superfície são
desaceleradas em virtude das forças viscosas. A
porção de fluido contida na região de variação
substancial de velocidade, ilustrada na figura
1.14, é denominada de camada limite
hidrodinâmica.
Consideremos
agora o escoamento de um fluido ao longo de uma
superfície quando existe uma diferença de
temperatura entre o fluido e a superfície. Neste
caso, o fluido contido na região de variação
substancial de temperatura é chamado de
camada limite térmica. Por exemplo,
analisemos a transferência de calor para o caso
de um fluido escoando sobre uma superfície
aquecida, como mostra a figura 1.15. Para que
ocorra a transferência de calor por convecção
através do fluido é necessário um gradiente de
temperatura (camada limite térmica) em uma
região de baixa velocidade (camada limite
hidrodinâmica).
O mecanismo da
convecção pode então ser entendido como a ação
combinada de condução de calor na região de
baixa velocidade onde existe um gradiente de
temperatura e movimento de mistura na região de
alta velocidade. Portanto:
· Região
de baixa velocidade Þ
a condução é mais importante
· Região
de alta velocidade
Þ a
mistura entre o fluido mais quente e o mais frio
é mais importante
Como visto
anteriormente, a expressão para o fluxo de calor
transferido por convecção é:
Um fluxo de
calor é também uma relação entre um potencial
térmico e uma resistência:
Igualando as
equações obtemos a expressão para a resistência
térmica na convecção:
(eq.
1.26)
6.3.5.
Mecanismos Combinados de Transferência de Calor
(Condução-Convecção)
Consideremos uma
parede plana situada entre dois fluidos a
diferentes temperaturas. Um bom exemplo desta
situação é o fluxo de calor gerado pela
combustão dentro de um forno, que atravessa a
parede por condução e se dissipa no ar
atmosférico.
Utilizando a
equação de Newton (equação 1.21) e a equação
para o fluxo de calor em uma parede plana
(equação 1.3), podemos obter as seguintes
equações para o fluxo de calor transferido pelo
forno:
Colocando as
diferenças de temperatura em evidência e somando
membro a membro, obtemos:
Substituindo as
expressões para as resistências térmicas à
convecção e à condução em parede plana na
equação acima, obtemos fluxo de calor
transferido pelo forno:
(eq. 1.27)
Portanto, também
quando ocorre a ação combinada dos mecanismos de
condução e convecção, a analogia com a
eletricidade continua válida; sendo que a
resistência total é igual à soma das
resistências que estão em série, não importando
se por convecção ou condução.
Exercício
R.6.3.3.
A parede de um
edifício tem 30,5 cm de espessura e foi
construída com um material de k = 1,31 W/m.K. Em
dia de inverno as seguintes temperaturas foram
medidas: temperatura do ar interior = 21,1 ºC;
temperatura do ar exterior = -9,4 ºC;
temperatura da face interna da parede = 13,3 ºC;
temperatura da face externa da parede = -6,9 ºC.
Calcular os coeficientes de película interno e
externo à parede.
Exercício
R.6.3.4.
Um reator de
paredes planas foi construído em aço inox e tem
formato cúbico com 2 m de lado. A temperatura no
interior do reator é 600 ºC e o coeficiente de
película interno é 45 kcal/h.m2.ºC.
Tendo em vista o alto fluxo de calor, deseja-se
isola-lo com lã de rocha (k= 0,05 kcal/h.m.ºC)
de modo a reduzir a transferência de calor.
Considerando desprezível a resistência térmica
da parede de aço inox e que o ar ambiente está a
20ºC com coeficiente de película 5 kcal/h.m2.ºC,
calcular :
a) O fluxo de
calor antes da aplicação do isolamento;
b) A espessura
do isolamento a ser usado, sabendo-se que a
temperatura do isolamento na face externa deve
ser igual a 62 ºC;
c) A redução (em
%) do fluxo de calor após a aplicação do
isolamento.
6.5.
Princípios da Radiação Térmica
6.5.1.
Definição
Radiação
Térmica
é o processo pelo qual calor é transferido de um
corpo sem o auxílio do meio interveniente, e em
virtude de sua temperatura. Ao contrário dos
outros dois mecanismos, a radiação ocorre
perfeitamente no vácuo, não havendo, portanto,
necessidade de um meio material para a colisão
de partículas como na condução ou transferência
de massa como na convecção. Isto acontece porque
a radiação térmica se propaga através de ondas
eletromagnéticas de maneira semelhante às ondas
de rádio, radiações luminosas, raio-X, raios-g,
etc., diferindo apenas no comprimento de onda
(
l ). Este
conjunto de fenômenos de diferentes comprimentos
de ondas, representado simplificadamente na
figura 1.21, é conhecido como espectro
eletromagnético.
A intensidade de
radiação térmica depende da temperatura da
superfície emissora. A faixa de comprimentos de
onda englobados pela radiação térmica fica entre
0,1
mm
e 100
mm
(1
m = 10-6
m). Essa faixa é subdividida em ultravioleta,
visível e infravermelha. O sol, com temperatura
de superfície da ordem de 10000 °C emite a maior
parte de sua energia abaixo de 3
mm,
enquanto que um filamento de lâmpada, a 1000 ºC,
emite mais de 90 % de sua radiação entre 1
mm
e 10
mm.
Toda superfície material, com temperatura acima
do zero absoluto emite continuamente radiações
térmicas. Poder de emissão (E) é a
energia radiante total emitida por um corpo, por
unidade de tempo e por unidade de área (Kcal/h.m2
no
sistema métrico).
6.5.2.
Corpo negro e corpo cinzento
Corpo Negro,
ou irradiador ideal, é um corpo que emite e
absorve, a qualquer temperatura, a máxima
quantidade possível de radiação em qualquer
comprimento de onda. O corpo negro é um conceito
teórico padrão com o qual as características de
radiação dos outros meios são comparadas.
Corpo
Cinzento
é o corpo cuja energia emitida ou absorvida é
uma fração da energia emitida ou absorvida por
um corpo negro. As características de radiação
dos corpos cinzentos se aproximam das
características dos corpos reais, como mostra
esquematicamente a figura 1.22.
Emissividade (e)
é a relação entre o poder de emissão de um corpo
cinzento e o do corpo negro.
(eq. 1.36)
Para os corpos
cinzentos a emissividade (e)
é, obviamente, sempre menor que 1. Pertencem à
categoria de corpos cinzentos a maior parte dos
materiais de utilização industrial, para os
quais em um pequeno intervalo de temperatura
pode-se admitir
e
constante e tabelado em função da natureza do
corpo.
6.5.3. Lei
de Stefan-Boltzmann
A partir da
determinação experimental de Stefan e da
dedução matemática de Boltzmann,
chegou-se a conclusão que a quantidade total de
energia emitida por unidade de área de um corpo
negro e na unidade de tempo, ou seja, o seu
poder de emissão ( En ), é
proporcional a quarta potência da temperatura
absoluta
(eq.
1.37)
No sistema
internacional a constante de Stefan-Boltzmann é:
6.5.4.
Fator forma
Um
problema-chave no cálculo radiação entre
superfícies consiste em determinar a fração da
radiação difusa que deixa uma superfície e é
interceptada por outra e vice-versa. A fração da
radiação distribuída que deixa a superfície Ai
e alcança a superfície Aj
é denominada de fator forma para radiação Fij.
O primeiro índice indica a superfície que emite
e o segundo a que recebe radiação. Consideremos
duas superfícies negras de áreas A1 e
A2, separadas no espaço (figura 1.23)
e em diferentes temperaturas (T1 > T2):
Em relação às
superfícies A1 e A2 temos
os seguintes fatores forma:
F12
=
fração da energia que deixa a superfície (1) e
atinge (2)
F21
=
fração da energia que deixa a superfície (2) e
atinge (1)
A energia
radiante que deixa A1 e alcança A2
é:
(eq. 1.38)
A energia
radiante que deixa A2 e alcança A1
é:
(eq. 1.39)
A troca líquida
de energia entre as duas superfícies será:
(eq. 1.40)
Consideremos
agora a situação em que as duas superfícies
estão na mesma temperatura. Neste caso, o poder
de emissão das duas superfícies negras é o mesmo
(En1 = En2) e não pode
haver troca líquida de energia ().
Então a equação 1.40 fica assim:
Como En1 = En2 (corpos
negros), obtemos:
(eq. 1.41)
Como tanto a
área e o fator forma não dependem da
temperatura, a relação dada pela equação 1.41 é
válida para qualquer temperatura. Substituindo a
equação 1.41 na equação 1.40, obtemos:
Pela lei de
Stefan-Boltzmann, temos que:
,
portanto:
Obtemos assim a
expressão para o fluxo de calor transferido por
radiação entre duas superfícies a diferentes
temperaturas:
(eq.
1.41)
O Fator Forma
depende da geometria relativa dos corpos e de
suas emissividades (e).
Nos livros e manuais, encontramos para diversos
casos, tabelas e ábacos para o cálculo do fator
forma para cada situação (placas paralelas,
discos paralelos, retângulos perpendiculares,
quadrados, círculos, etc.). Um caso com muitas
aplicações industriais é quando a superfície
cinzenta que irradia é muito menor que
superfície cinzenta que recebe a radiação (por
exemplo, uma resistência elétrica irradiando
calor para o interior de um forno). Para este
caso específico, o Fator Forma é simplesmente a
emissividade da superfície emitente:
(eq.
1.42)
Exercício
R.6.5.1.
Um duto de ar
quente, com diâmetro externo de 22 cm e
temperatura superficial de 93 ºC, está
localizado num grande compartimento cujas
paredes estão a 21ºC. O ar no compartimento está
a 27ºC e o coeficiente de película é 5 kcal/h.m2.ºC.
Determinar a quantidade de calor transferida por
unidade de tempo, por metro de tubo, se:
a) o duto é de
estanho (e
= 0,1)
b) o duto é
pintado com laca branca (e
= 0,9)
EXERCÍCIOS
RESOLVIDOS
1- Uma parede
plana é composta por 3 camadas de materiais
diferentes, cujas espessuras são 5cm, 10cm e
25cm e as condutividades térmicas são 44,8 W/mºC;
4,66 W/mºC e 0,69 W/mºC, respectivamente. As
temperaturas das superfícies expostas das
camadas externas são de 980ºC e 93ºC,
respectivamente. Calcule a taxa de transmissão
de calor por condução, por metro quadrado de
superfície da parede.
2-
Uma parede de um forno é constituída de duas
camadas: 0,20 m de tijolo refratário (k =1,2
kcal/h.m.ºC) e 0,13 m de tijolo isolante (0,15
kcal/h.m. ºC). A temperatura dos gases dentro do
forno é 1700 ºC e o coeficiente de película na
parede interna é 58 kcal/h.m2.ºC. A
temperatura ambiente é 27 ºC e o coeficiente de
película na parede externa
é 12,5 kcal/h m2
ºC. Desprezando a resistência térmica das juntas
de argamassa, calcular:
a)
o fluxo de calor por m2 de parede;
b)
a temperatura nas superfícies interna e externa
da parede.
Exercícios:
1) O que
significa convecção livre? E convecção forçada?
2) Como se
define um corpo negro? Qual o material que mais
se aproxima do corpo negro?
3)
Analise as afirmações
referentes à condução térmica:
I
– Para que um pedaço de carne cozinhe mais
rapidamente, pode-se introduzir nele um espeto
metálico. Isso se justifica pelo fato de o metal
ser um bom condutor de calor.
II
– Os agasalhos de lã dificultam a perda de
energia (na forma de calor) do corpo humano para
o ambiente, devido ao fato de o ar aprisionado
entre suas fibras ser um bom isolante térmico.
III – Devido à condução térmica, uma barra de
metal mantém-se a uma temperatura inferior à de
uma barra de madeira colocada no mesmo ambiente.
Podemos afirmar que
a)
I, II e III estão corretas.
b)
I, II e III estão erradas.
c)
Apenas I está correta.
d)
Apenas II está correta.
e)
Apenas I e II estão corretas.
4)
Considere o texto
abaixo com as lacunas.
“Numa geladeira, o ar frio ______ e o ar quente
______ para ser resfriado, numa continua
corrente de ______. Para facilitar o
resfriamento do ar, o sistema de refrigeração é
colocado na parte ______ da geladeira.”
As
palavras que preenchem corretamente as lacunas
são, respectivamente,
a)
sobe - desce - convecção - superior
b)
desce - sobe - convecção - superior
c)
sobe - desce - condução - inferior
d)
desce - sobe - condução - inferior
e)
sobe - desce - radiação - superior
5) Considere
as afirmações seguintes:
III
- Condução é uma forma de transmissão de calor
que não ocorre no vácuo.
III
- Irradiação é uma forma de transmissão de calor
que ocorre apenas no vácuo.
III - Convecção é uma forma de transmissão de
calor que ocorre apenas nos líquidos.
Estão erradas:
a)
I e II b) I e
III c)
II e III
d) I, II, III e)
nenhuma
6) Leia
atentamente as afirmativas abaixo:
IiI
- para refrigerar um barril de chope, fechado,
deve-se colocar gelo sobre o mesmo e nunca
embaixo.
III
- quando nos aproximamos de uma fogueira
sentimos calor devido, principalmente, à
condução térmica que se dá pelo ar.
III - os ventos em geral e as brisas litorâneas,
em particular, são correntes de convecção
gasosas. No litoral, durante o dia, as massas de
ar sobre a Terra sobem, dando lugar ao ar que
vem do mar para a Terra.
Entre as afirmativas, está(ão) correta(s)
a)
somente I. b) somente II.
c) II e III. d) I e
III. e)
I, II e III.
7)
A figura ilustra um
sistema de aquecimento solar: uma placa metálica
P pintada de preto e, em contato com ela, um
tubo metálico encurvado; um depósito de água D e
tubos de borracha T ligando o depósito ao tubo
metálico.
O
aquecimento da água contida no depósito D, pela
absorção da energia solar,
é
devido basicamente aos seguintes fenômenos, pela
ordem
a)
condução, irradiação, convecção.
b)
irradiação, condução, convecção.
c)
convecção, condução, irradiação.
d)
condução, convecção, irradiação.
e)
irradiação, convecção, condução.
8) Uma roupa de
lã tem 5 mm de espessura. Supondo-a totalmente
em contato com a pele de uma pessoa, a 36 ºC,
num meio ambiente a 10 ºC, determine: Dado:
coeficiente de condutibilidade térmica da lã:
K=0,00009 cal/s . cm . ºC
a) o fluxo de
calor por cm2 através da roupa.
(4,68.10-3 cal/s.)
b) a quantidade
de calor perdida por cm2 pela pele em
1min. (0,280
cal)
9) Um lado de
uma parede plana grande de 10 cm de espessura é
exposta a um fluxo de calor de 100 W/m2.
A medida da diferença de temperatura entre os
lados da parede é 10ºC. Qual o coeficiente de
condutividade da parede? (1 W/m.K)
10) Considere o
exercício 9. Se um material diferente, com uma
condutividade térmica de 0,1 W/m.K, fosse
escolhido para a parede plana, mas a espessura
da parede e a diferença de temperatura através
da parede permanecessem as mesmas, qual seria o
resultado do fluxo de calor? (10W/m2).
11) Calor é
transferido por convecção de uma parede para uma
corrente de ar a 25ºC. Se o fluxo de calor
permanece constante em 100 W/m2, ache
a temperatura da superfície da parede se (a) hc
= 10 W/m2.K, (b) hc = 100
W/m2.K e (c) hc = 1000 W/m2.K.
Analise os resultados. (35ºC, 26ºC, 25,1ºC)
12) Radiação é
emitida por uma superfície a 300 K com uma
emissividade de 0,6. Qual será a radiação
emitida da superfície e a mudança da radiação
emitida, se a temperatura da superfície for
aumentada para 1000 K. Dado:
s = 5,67
. 10-8 W/m2.K4
. (A temperatura aumenta de 233,33% e a potência
emissiva aumenta 12.200%).