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Aula 8

 

 

 

 

 

                       

 

 

 

                                                     
 
TRANSFERÊNCIA DE CALOR

6.1 Introdução:

6.1.1. O que é e como se processa?

 

Transferência de Calor (ou Calor) é energia em trânsito devido a uma diferença de temperatura. Sempre que existir uma diferença de temperatura em um meio ou entre meios ocorrerá transferência de calor.

Por exemplo, se dois corpos a diferentes temperaturas são colocados em contato direto, como mostra a figura 1.1, ocorrera uma transferência de calor do corpo de temperatura mais elevada para o corpo de menor temperatura até que haja equivalência de temperatura entre eles. Dizemos que o sistema tende a atingir o equilíbrio térmico.

Está implícito na definição acima que um corpo nunca contém calor, mas calor é identificado com tal quando cruza a fronteira de um sistema. O calor é, portanto um fenômeno transitório, que cessa quando não existe mais uma diferença de temperatura.

Os diferentes processos de transferência de calor são referidos como mecanismos de transferência de calor. Existem três mecanismos, que podem ser reconhecidos assim:

 

· Quando a transferência de energia ocorrer em um meio estacionário, que pode ser um sólido ou um fluido, em virtude de um gradiente de temperatura, usamos o termo transferência de calor por condução. A figura 1.2 ilustra a transferência de calor por condução através de uma parede sólida submetida à uma diferença de temperatura entre suas faces.

 

· Quando a transferência de energia ocorrer entre uma superfície e um fluido em movimento em virtude da diferença de temperatura entre eles, usamos o termo transferência de calor por convecção. A figura 1.3 ilustra a transferência de calor de calor por convecção quando um fluido escoa sobre uma placa aquecida.

 

· Quando, na ausência de um meio interveniente, existe uma troca líquida de energia (emitida na forma de ondas eletromagnéticas) entre duas superfícies a diferentes temperaturas, usamos o termo radiação. A figura 1.4 ilustra a transferência de calor por radiação entre duas superfícies a diferentes temperaturas.

 

6.1.2. Mecanismos Combinados

Na maioria das situações práticas ocorrem ao mesmo tempo dois ou mais mecanismos de transferência de calor atuando ao mesmo tempo. Nos problemas da engenharia, quando um dos mecanismos domina quantitativamente, soluções aproximadas podem ser obtidas desprezando-se todos, exceto o mecanismo dominante. Entretanto, deve ficar entendido que variações nas condições do problema podem fazer com que um mecanismo desprezado se torne importante.

Como exemplo de um sistema onde ocorrem ao mesmo tempo vários mecanismo de transferência de calor consideremos uma garrafa térmica. Neste caso, podemos ter a atuação conjunta dos seguintes mecanismos esquematizados na figura 1.5:

Melhorias estão associadas com (1) uso de superfícies aluminizadas (baixa emissividade) para o frasco e a capa de modo a reduzir a radiação e (2) evacuação do espaço com ar para reduzir a convecção natural.

 

6.1.3. Sistemas de Unidades

 

As dimensões fundamentais são quatro: tempo, comprimento, massa e temperatura. Unidades são meios de expressar numericamente as dimensões.

Apesar de ter sido adotado internacionalmente o sistema métrico de unidades denominado sistema internacional (S.I.), o sistema inglês e o sistema prático métrico ainda são amplamente utilizados em todo o mundo. Na tabela 1.1 estão as unidades fundamentais para os três sistemas citados:

Unidades derivadas mais importantes para a transferência de calor, mostradas na tabela 1.2, são obtidas por meio de definições relacionadas a leis ou fenômenos físicos:

 

·Lei de Newton: Força é igual ao produto de massa por aceleração (F = m.a), então :

1 Newton (N) é a força que acelera a massa de 1 Kg a 1 m/s2

·Trabalho (Energia) tem as dimensões do produto da força pela distância ( W = F.x ), então :

1 Joule (J ) é a energia dispendida por uma força de 1 N em 1 m

 

·Potência tem dimensão de trabalho na unidade de tempo (P = W/ t), então:

1 Watt (W) é a potência dissipada por uma força de 1 J em 1 s

As unidades mais usuais de energia ( Btu e Kcal ) são baseadas em fenômenos térmicos, e definidas como :

 

· Btu é a energia requerida na forma de calor para elevar a temperatura de 1lb de água de 67,5 ºF a 68,5 ºF

 

·  Kcal é a energia requerida na forma de calor para elevar a temperatura de 1 kg de água de 14,5 ºC a 15,5 ºC

 

Em relação ao calor transferido, as seguintes unidades que são, em geral, utilizadas:

 - fluxo de calor transferido (potência): W, Btu/h, Kcal/h.

Q - quantidade de calor transferido (energia): J, Btu, Kcal.

6.2 Condução:

Uma das técnicas utilizadas para a detecção de um incêndio dentro de um ambiente consiste em encostarmos a mão na porta ou na parede, sentindo assim a temperatura da mesma. O que acontece, termodinamicamente no momento do contato? Definindo nossa mão como um sistema A e a porta como um sistema B, reconhecemos que A recebe calor de B (através da fronteira). Em conseqüência, a energia interna de A começa a subir e daí sua temperatura. Pelo contato térmico, há transferência de calor de B para A.

Formalizando, podemos dizer que condução de calor é a troca de energia entre sistemas ou partes de um mesmo sistema em diferentes temperaturas que ocorre pela interação molecular (impacto) onde moléculas de alto nível energético transferem energia às outras, como acontece com gases e mais intensamente com líquidos, pois neste caso, as moléculas estão bem mais próximas. Para sólidos não metálicos, o mecanismo básico de condução está associado às vibrações das estruturas eletrônicas e para os metais, os elétrons livres, que podem se mover na estrutura cristalina, entram em cena, aumentando a intensidade da difusão (condução) de energia. Assim, materiais que forem bons condutores elétricos serão bons condutores térmicos, uma vez que os mecanismos de operação sejam os mesmos.

 

6.2.1. Lei de Fourier

A lei de Fourier foi desenvolvida a partir da observação dos fenômenos da natureza em experimentos.

Imaginemos um experimento onde o fluxo de calor resultante é medido após a variação das condições experimentais. Consideremos, por exemplo, a transferência de calor através de uma barra de ferro com uma das extremidades aquecidas e com a área lateral isolada termicamente, como mostra a figura 1.6:

 

 

Com base em experiências, variando a área da seção da barra, a diferença de temperatura e a distância entre as extremidades, chega-se a seguinte relação de proporcionalidade:

A proporcionalidade pode se convertida para igualdade através de um coeficiente de proporcionalidade e a Lei de Fourier pode ser enunciada assim: A quantidade de calor transferida por condução, na unidade de tempo, em um material, é igual ao produto das seguintes quantidades:

                                                                           (eq. 1.1)

 

 , fluxo de calor por condução ( Kcal/h no sistema métrico);

k, condutividade térmica do material;

A, área da seção através da qual o calor flui, medida perpendicularmente à direção do fluxo (m2);

dT/ dx, razão de variação da temperatura T com a distância, na direção x do fluxo de calor ( ºC/h )

ÞA razão do sinal menos na equação de Fourier é que a direção do aumento da distância x deve ser a direção do fluxo de calor positivo. Como o calor flui do ponto de temperatura mais alta para o de temperatura mais baixa (gradiente negativo), o fluxo só será positivo quando o gradiente for positivo (multiplicado por -1).

O fator de proporcionalidade k (condutividade térmica) que surge da equação de Fourier é uma propriedade de cada material e vem exprimir maior ou menor facilidade que um material apresenta à condução de calor. Sua unidade é facilmente obtida da própria equação de Fourier, por exemplo, no sistema prático métrico temos:

No sistema inglês fica assim:

No sistema internacional (SI), fica assim:

 

Os valores numéricos de k variam em extensa faixa dependendo da constituição química, estado físico e temperatura dos materiais. Quando o valor de k é elevado o material é considerado condutor térmico e, caso contrário, isolante térmico. Com relação à temperatura, em alguns materiais como o alumínio e o cobre, o k varia muito pouco com a temperatura, porém em outros, como alguns aços, o k varia significativamente com a temperatura. Nestes casos, adota-se como solução de engenharia um valor médio de k em um intervalo de temperatura.

 

6.2.2. Condução de Calor em uma Parede Plana

Consideremos a transferência de calor por condução através de uma parede plana submetida a uma diferençam de temperatura. Ou seja, submetida a uma fonte de calor, de temperatura constante e conhecida, de um lado, e a um sorvedouro de calor do outro lado, também de temperatura constante e conhecida. Um bom exemplo disto é a transferência de calor através da parede de um forno, como pode ser visto na figura 1.7, que tem espessura L, área transversal A e foi construído com material de condutividade térmica k. Do lado de dentro a fonte de calor mantém a temperatura na superfície interna da parede constante e igual a T1 e externamente o sorvedouro de calor ( meio ambiente ) faz com que a superfície externa permaneça igual a T2.

 

Aplicado a equação de Fourier, tem-se:

                                         

Na figura 1.7 vemos que na face interna (x=0) a temperatura é T1 e na face externa ( x=L ) a temperatura é T2. Para a transferência em regime permanente o calor transferido não varia com o tempo. Como a área transversal da parede é uniforme e a condutividade k é um valor médio, a integração da equação 1.2, entre os limites que podem ser verificados na figura 1.7, fica assim:

 

Considerando que (T1 - T2) é a diferença de temperatura entre as faces da parede (DT ), o fluxo de calor a que atravessa a parede plana por condução é :

                               (eq. 1.3)                                             

 

Para melhor entender o significado da equação 1.3 consideremos um exemplo prático. Suponhamos que o engenheiro responsável pela operação de um forno necessita reduzir as perdas térmicas pela parede de um forno por razões econômicas. Considerando a equação 1.3, o engenheiro tem, por exemplo, as opções listadas na tabela 1.3:

 

Trocar a parede ou reduzir a temperatura interna podem ações de difícil implementação; porém, a colocação de isolamento térmico sobre a parede cumpre ao mesmo tempo as ações de redução da condutividade térmica e aumento de espessura da parede.

 

Exercício R.6.2.1. Um equipamento condicionador de ar deve manter uma sala, de 15 m de comprimento, 6 m de largura e 3 m de altura a 22 ºC. As paredes da sala, de 25 cm de espessura, são feitas de tijolos com condutividade térmica de 0,14 Kcal/h.m.ºC e a área das janelas podem ser consideradas desprezíveis. A face externa das paredes pode estar até a 40 ºC em um dia de verão. Desprezando a troca de calor pelo piso e pelo teto, que estão bem isolados, pede-se o calor a ser extraído da sala pelo condicionador (em HP).

OBS: 1 HP = 641,2 Kcal/h

 

Para o cálculo da área de transferência de calor desprezamos as áreas do teto e piso, onde a transferência de calor é desprezível. Desconsiderando a influência das janelas, a área das paredes da sala é:

A = 2× 6 × 3 + 2 ×(15× 3)= 126m2

Considerando que a área das quinas das paredes, onde deve ser levada em conta a transferência de calor bidimensional, é pequena em relação ao resto, podemos utilizar a equação 1.3:

 

6.2.3. Analogia entre Resistência Térmica e Resistência Elétrica

Dois sistemas são análogos quando eles obedecem a equações semelhantes. Por exemplo, a equação 1.3 que fornece o fluxo de calor através de uma parede plana pode ser colocada na seguinte forma:

                     (eq. 1.4)                                                             

 

O denominador e o numerador da equação 1.4 podem ser entendidos assim:

 

· (DT), a diferença entre a temperatura da face quente e da face fria, consiste no potencial que causa a transferência de calor.

· (L / k.A) é equivalente a uma resistência térmica (R) que a parede oferece à transferência de calor.

 

Portanto, o fluxo de calor através da parede pode ser expresso da seguinte forma:

     (eq. 1.5)                         

Se substituirmos na equação 1.5 o símbolo do potencial de temperatura DT pelo de potencial elétrico, isto é, a diferença de tensão DU, e o símbolo da resistência térmica R pelo da resistência elétrica Re, obtemos a equação 1.6 (lei de Ohm) para i, a intensidade de corrente elétrica:

                             (eq. 1.6)                                                        

 

Dada esta analogia, é comum a utilização de uma notação semelhante a usada em circuitos elétricos, quando representamos a resistência térmica de uma parede ou associações de paredes. Assim, uma parede de resistência R, submetida a um potencial DT e atravessada por um fluxo de calor , pode ser representada como na figura 1.8:

 

6.2.4. Associação de paredes planas em série

Consideremos um sistema de paredes planas associadas em série, submetidas a uma fonte de calor, de temperatura constante e conhecida, de um lado e a um sorvedouro de calor do outro lado, também de temperatura constante e conhecida. Assim, haverá a transferência de um fluxo de calor contínuo no regime permanente através da parede composta. Como exemplo, analisemos a transferência de calor através da parede de um forno, que pode ser composta de uma camada interna de refratário (condutividade k1 e espessura L1), uma camada intermediária de isolante térmico (condutividade k2 e espessura L2) e uma camada externa de chapa de aço (condutividade k3 e espessura L3). A figura 1.9 ilustra o perfil de temperatura ao longo da espessura da parede composta:

O fluxo de calor que atravessa a parede composta pode ser obtido em cada uma das paredes planas individualmente:

                 (eq. 1.7)

Isolando as diferenças de temperatura em cada uma das equações 1.7 e somando membro a membro, obtemos:

Isolando as diferenças de temperatura em cada uma das equações 1.7 e somando membro a membro, obtemos:

       (eq. 1.8)

Colocando em evidência o fluxo de calor  e substituindo os valores das resistências térmicas em cada parede na equação 1.8, obtemos o fluxo de calor pela parede do forno:

 

                                   (eq. 1.9)

 

Portanto, para o caso geral em que temos uma associação de paredes n planas associadas em série o fluxo de calor é dado por:

        

(eq. 1.10)

 

 

6.2.5. Associação de paredes planas em paralelo

Consideremos um sistema de paredes planas associadas em paralelo, como na figura 1.10, submetidas a uma diferença de temperatura constante e conhecida. Assim, haverá a transferência de um fluxo de calor contínuo no regime permanente através da parede composta.

·Todas as paredes estão sujeitas a mesma diferença de temperatura;

·As paredes podem ser de materiais e/ou dimensões diferentes;

·O fluxo de calor total é a soma dos fluxos por cada parede individual.

O fluxo de calor que atravessa a parede composta pode ser obtido em cada uma das paredes planas individualmente:

     (eq. 1.11)

 

O fluxo de calor total é igual a soma dos fluxos da equação 1.11:

(eq. 1.12)                                                                                           (eq. 1.13)

 


 

Portanto, para o caso geral em que temos uma associação de n paredes planas associadas em paralelo o fluxo de calor é dado por:

 

    (eq. 1.14)

 

Em uma configuração em paralelo, embora se tenha transferência de calor bidimensional, é freqüentemente razoável adotar condições unidimensionais. Nestas condições, admite-se que as superfícies paralelas à direção x são isotérmicas. Entretanto, a medida que a diferença entre as condutividades térmicas das paredes ( k1 - k2 ) aumenta, os efeitos bidimensionais tornam-se cada vez mais importantes.

 

Exercício R.6.2.2. Uma camada de material refratário (k=1,5 kcal/h.m.ºC) de 50 mm de espessura está localizada entre duas chapas de aço (k = 45 kcal/h.mºC) de 6,3 mm de espessura. As faces da camada refratária adjacentes às placas são rugosas de modo que apenas 30 % da área total está em contato com o aço. Os espaços vazios são ocupados                              por ar (k=0,013 kcal/h.m.ºC) e a espessura média da rugosidade de 0,8 mm.

Considerando que as temperaturas das superfícies externas da placa de aço são 430 ºC e 90 ºC, respectivamente; calcule o fluxo de calor que se estabelece na parede composta. OBS: Na rugosidade, o ar está parado (considerar apenas a condução).

O circuito equivalente para a parede composta é: